segunda-feira, 22 de junho de 2009

Marimbondos e outros insetos



Recorro à expressão cunhada pelo deputado medieval Edmar Moreira/DEM-MG de ‘vícios da amizade’ para explicar para mim mesma o motivo pelo qual sinto-me desconfortável de inicio pela dureza do artigo de Nivaldo Cordeiro. Parodiando o deputado medieval, digo do meu 'vício afetivo' : O discurso do Sarney, que começa deste jeito:

'Eu sempre soube que Vossa Excelência, senador José Sarney, nunca foi um estadista, no sentido dicionarizado de ser uma pessoa que tem liderança política e sabedoria para se portar acima dos interesses gremiais menores e em prol dos interesses gerais. Sempre me pareceu que Vossa Excelência pautou sua vida política pela mesquinharia, pelo compadrio, pelo usufruto do poder de Estado para fazer prevalecer seus instintos de clã naquilo que tem de mais retrógrado. Tem me parecido que a ética dos cupinhas é a que preside as suas relações de poder, desde a origem.' Nivaldo Cordeiro


Não bastasse o desconforto causado pelo meu vício afetivo, todo o farto noticiário e o editorial do DomínioFeminino também não me permitem sossego. Há no fundo de minhas lembranças, uma imagem do homem Sarney como pessoa gentil, sensível, generosa e até bonachona. Está bem, também há a imagem de um homem esperto nos negócios, mas que até aqui nada desabona se por esperteza entende-se um bom negociador empresarial. Acho que há esperteza das duas formas; a de levar mais vantagem e a de saber reconhecer um bom negócio a sua frente. Pode estar aqui meu maior desconforto.

Há a lembrança de um homem remoído pelo susto e pela pressão quando de sua posse, como se o padrinho da noiva, de repente, com a desistência do noivo tivesse que assumir o lugar. Um homem perplexo com as tantas e imensas dificuldades políticas a serem enfrentadas e não teria conseguido se não lhe valesse a esperteza política, a esperteza da qual não gosto; todavia, não vejo como sobreviver nesta forma degradada imposta pelo Sistema do Cabresto da centralização do poder. O excesso de poder que tem um presidente no Brasil equivale ao direito de poder tudo, de poder transformar-se até em ditador sem que nada possa ser feito para antecipar ações impeditivas.

Além do mais, não se trata de ser o Senador José Sarney, um homem que faz política à moda antiga porque não vemos nenhum dos jovens políticos, desses meninos que já chegaram há algum tempo ou os recém-chegados, fazerem qualquer coisa de diferente. Nem poderão fazer a menos que optem pelo suicídio político. Nosso Sistema Federativo é retrógrado e viciado em si mesmo. Este meu tempo não viu nenhum político arriscando-se a mudar nada.

A única coisa da qual poderia acusar o ex-presidente José Sarney, sem dó nem piedade seria o fato de que ele não teve coragem para promover alguma mudança no Sistema. E isto, sempre irei cobrar de todo e qualquer vereador, deputado estadual, federal, senador e presidente da república. Enquanto faço as cobranças o gelo continua molhado.

Em outro momento deduzo que meu desconforto ocorre porque o ex-Presidente e atual Senador está ligado – na minha memória afetiva - à beleza dos casarios e dos azulejos de São Luis e, à noite, a lua se espelhado nas pedras de Portugal, bem no alto da Rua do Sol..

Nada disso, esse final patético de pretensiosa tanto quanto ordinária prosa poética acho que é para aplacar minha eterna perplexidade, para suportar tantos marimbondos de fogo e toda a rica fauna política brasileira protegida por leis com vistas à preservação. Enfim talvez, ainda possa ser uma tristeza grande por ver o quanto um homem público joga no lixo uma biografia que poderia ter sido escrita de melhor forma, com um final menos melancólico.


Está longe a hora de acreditar que o Sarney é o último dos marimbondos.

Verde pela Liberdade do Irã!

Um comentário:

Caio Martins disse...

Assino em baixo sem pestanejar. Parabéns pela matéria, deve ser amplamente divulgada.