sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os novos bárbaros aristocratas

Ou, como enganar ignorantes, loucos, crianças e distraidos


Há três espécies de aristocracia: a natural, a eletiva e a hereditária. A primeira não convém senão aos povos simples. A terceira é a pior de todos os governos. A segunda é a aristocracia propriamente dita.

A aristocracia natural viria da força física, exercício de poder, por coerção física, de um homem de maior força do que o outro, tal qual no mundo animal, seria a força da hereditariedade da natureza tribal. A cômoda comparação da força do leão local de uso tão comum em nossos meios, seja o uso dessa força, nas escolas, seja nas ruas, nas boates e nos bairros. A força dos músculos no lugar da força da inteligência.

A terceira força aristocrática se mostra, hoje, em grupos tribais mais ameaçadora do que se poderia imaginar, em vista do aproveitamento; a aristocracia eletiva, tomou outra feição porque conseguiu somar-se à aristocracia natural da força bruta, ao revestir-se em aparente aristocracia eletiva. O governante, principalmente, assumiu compleições voluntaristas de monarca, situando-se acima do Estado e, naturalmente, acima de sua meninada.

A juventude não é a infância. Há para as nações como para os homens um tempo de juventude ou, se assim se quiser, de maturidade, durante o qual é preciso esperar antes de sujeitá-los às leis, mas a maturidade de um povo não é fácil de conhecê-la e, se for antecipada, aborta-se a obra. Um povo pode ser disciplinado ao nascer, enquanto outro não o será mesmo depois de dez séculos. Tal vem sendo demonstrado na América Latina e Central.

No caminhar do projeto — bolivariano — de independência do Foro de São Paulo, órgão que responde pela Nação Bolivariana e tem como Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva — chefe de estado de duas nações, por enquanto — deixa para seu primeiro-ministro, Hugo Chávez, testar e sedimentar as práticas, antes de ventilá-las por aqui, Brasil pouco menos tribal, apenas na aparência. Como se dissesse: ‘tu faz primeiro, tu vai na frente, mostra que dá certo e nós aqui vamos usar como o modelo ‘que deu certo lá’. Assim, o povo fica sabendo e não estranha muito. Não estranhando, esbraveja menos, mas é mais certo que não esbraveje nada. A nova aristocracia eletiva conformada nas Américas Latina e Central tem sua ancestralidade em povos ainda comprometidos com o poder tribal, da força física, daqueles ‘povos simples’, ainda em fase de infância, dotados de menor capacidade de cultura política.

Junte-se ‘povos simples’ com aqueles indisciplinados pela falta de maturidade —, outra vez falta de cultura política por, até aqui, não haver alcançado o pleno entendimento dos direitos civis interligado a uma sociedade- e temos, então, o barbarismo bolivariano. O povo simples não é recomendado para dirigir aconselha-se que dirigentes sejam os maduros — equivalentes a sãos de espírito, equivalentes a honestos -, que são os sábios; isto para um povo que tenha saído da infância, provada a maturidade pela capacidade de seguir na disciplina do cumprimento ao contrato social. Assim foi compreendido, para a feitura* da Constituição americana.

[...]Os tempos modernos têm agora também, esta vantagem evidente, a de ter descoberto o único processo pelo qual esses direitos podem ser assegurados, a saber: governo pelo povo, agindo não em pessoa, mas por meio de representantes eleitos pelo próprio povo, isto é, por todo homem maduro e são de espírito que contribua, quer com sua bolsa, quer com sua pessoa para suporte do país. [...]
Carta de Thomas Jefferson a Adamation Coray, escrevendo de Monticello, 31 de outubro de 1823.


Essa nova aristocracia eletiva de bárbaros que se arranjam para a nova nação comprova-se, não pela vontade geral e sim pela vontade de todos, na ambição de uma nova sociedade sem que tenha alcançado a compreensão do que está inarredavelmente ligado ao direito civil. Assim as crianças preferem o doce ao salgado. E tentar que essas crianças corram para ultrapassar a infância — em queima de etapas — e chegar à vida adulta, sem passar pela adolescência moral, é pedir para que permaneçam imaturas e incapazes de lidar com as responsabilidades decorrentes da vida futura na junção societária sem acordo pactuado que lhes garantam a liberdade para o desenvolvimento de seres políticos. Assim como a natureza estabeleceu limites à estatura de um homem bem formado, além dos quais só produz gigantes ou anões.

O que o homem perde pelo contrato social é sua liberdade natural e um direito ilimitado a tudo o que tenta e que pode alcançar. O que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo aquilo que possui. Querer queimar etapas finda em perene retrocesso. Ou seja, o Foro de São Paulo — formado por povos cuja massa sem maturidade; primitivos e sem sabedoria, portanto — desenhou o projeto que põe a carroça na frente de bois sem rédeas, o que é bem compreensível saber que os cabeças querem, primeiro, definir e estabelecer uma sociedade sem contrato, sem rédeas civis.

O poder que se origina do amor dos povos é sem dúvida o maior, mas é precário e condicional. O conjunto de mentiras que formam os ideais bolivarianos baseados no discurso pseudoteológico da solidariedade, versão marxista que substitui a antiga caridade cristã, serve como inervação para sustentar a massa desprovida da ossatura do contrato com a sociedade que não pretendem os monarcas planejadores. A falácia da compaixão com os países‘irmãos pobres’ vizinhos encontram respostas, mais uma vez, no pensamento de Rousseau. O condicional, nesta situação projetada, inexoravelmente, fluirá pela estação de contrariedades futuras. Cessados os atendimentos, cessará o amor político entre os pais dessa pretensa grande futura família bolivariana.

A família é, pois, o primeiro modelo, pode-se dizer, das sociedades políticas. O chefe é a imagem do pai, o povo é a imagem dos filhos e todos, tendo nascido iguais e livres, não alienam a liberdade a não ser para sua utilidade. Toda diferença consiste em que, na família, o amor do pai por seus filhos o compensa dos cuidados que lhe dão, ao passo que no Estado o prazer de comandar substituis o amor que o chefe não sente por seu povo.
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Neste artigo o leitor encontrará muito para se distrair. É só descobrir o motivo oferecido com este propósito.

*Até o Merval Pereira voltar das férias continuarei escrevendo feitura em vez de fazimento.

4 comentários:

Roberto Pereira disse...

Gostei muito do seu Blog, Maria da Penha, o seu estilo literário e jornalístico é invejável !!!!
Parabéns !!!!
@BobWebBB

Ajuricaba disse...

Em essência, a manipulação de opiniões se torna um direito da falsa e forçada aristocracia, que se arvora do poder de domar os tradicionalistas, normalmente adormecidos em seus sonhos históricos e modelos empoeirados e emoldurados nos quadros de suas paredes; para fazer valer posições cada vez mais impositivas e que beiram a sanha ditatorial que possuem ou adquiriram por osmose nos crescimentos inexplicáveis de suas fortunas.
Nojo resume.
NB: link colocado nas Tabas Amigas da Tribo dos Manaós.

negoailso disse...

posso indicar um link? http://mises.org/daily/5343/Consent-of-the-Governedu

Filipe Augusto disse...

Nem "feitura" nem "fazimento": é "fazição" :D (Ja copiei, tuitei, feissebuquiei, tb)