sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A raiva não pede picadeiro



"Saí de casa no Texas em 04 de fevereiro de 2009 e dirigi toda a noite em direção a Washington DC, sem parar, fui contra a vontade de minha família, amigos e desejos da mulher.
Eu dormi apenas uma hora naquela noite e telefonava para minha esposa enquanto eu atravessava cada Estado. Na noite seguinte, em 5 de fevereiro de 2009, eu já havia chegado a Washington, e fique na Pennsylvania Avenue protestando, sozinho e com frio."  Dale Robertson    
NOVA DÉLHI (Reuters) - O combalido governo indiano cedeu aos protestos populares e autorizou o ativista Anna Hazare a realizar publicamente uma greve de fome de 15 dias para pedir a adoção de  novas leis contra a corrupção. (  Reuteurs )


O americano, Dale Robertson,  que deu o start para o grassroots do Tea Party americano não tinha ligação alguma com militância no modelo Anna Hazare. Dale Robertson é um cidadão comum sem a menor expressão, um total desconhecido pai de família, revoltado com a situação econômica do seu país. 


Ao contrário do indiano Anna Hazare, não tinha séquito de seguidores dando apoio. Ao contrário do indiano Anna Hazare, Dale Robertson não mandou para a midia local do seu Estado nenhum press release. Tão pouco seus familiares e amigos. A manifestação de protesto de Dale Robertson foi solitária e silenciosa. Não deu na imprensa americana local, nacional e nem na imprensa mundial.


Bem, aos poucos espalhou-se a notícia do protesto de Dale Robertson. Foi boca a boca pelo Twitter e Redes Sociais. Um verdadeiro rastrilho de pólvora — o sentido da palavra grass roots —, que acabou por formar o grassroot, inicialmente. O levante do Tea Party foi lento, na medida em que as pessoas iam sabendo e dando apoio, o protesto correu pelo país, sem coordenação, caciquia, lideranças. Apenas iniciativas individuais tal como a de Dale Robertson.


Graças à unidade de valores do povo americano, havia ideais na direção dos quais convergia a revolta de cada cidadão daquele país. A severidade das ações era em torno da rejeição da administração socialista de Obama que ameaça a Constituição.


Durante o início do Tea Party, e até hoje, as ações e iniciativas são resultados de total liberdade individual que segue apenas os fundamentos nos quais se originaram os protestos. Nenhuma parada alegórica, nenhuma exaustão do The Star-Spangled Banner, nenhum dono de púlpito. Onde quer que seja armado um palanque de improviso ou não, todo aquele que deseja falar, tem voz.





Uma única vez tomei parte numa dessas marchas simbólicas que usual e oportunamente se organiza. Toda parafernália carnavalesca de carro de som e dos donos da marcha lá no alto do carro festeiro, brilhando ao lado das estrelas e astros do mundo artístico que costumam servir  de indignados decorativos.


A tal marcha — que deveria ter um desses slogans idiotas tal como "Por um Brasil mais limpo  — dava-se às portas eleitorais e lá estavam os futuros candidatos. Um, particularmente, chamava atenção. Munido de balde com água e vassoura simbolicamente limpava a bandeira brasileira deitada no chão da Praça da Cinelândia, palco cativo para ebulições políticas devidamente bem vestidas de hipocrisia e mentiras. No alto do trem-elétrico os donos da marcha disputando espaço junto aos astros e estrelas. Sobrou mágoas dos que não conseguiram espaço lá em cima.


Essa é a cultura do simbólico ao som de samba, literalmente. Abre-alas de indignados com sorriso à boa cheia, de canto à canto da boca. Todos riem muito. Alguns, sem cerimônia, se esbaldam de tanto dançar. Uma esfuziante lição de raiva que chegava a contagiar os menos cínicos. De que riam os indignados daquela marcha, jamais consegui descobrir.


Como nosso povo gosta de coisas simbólicas; cara-pintada, nariz vermelho de palhaço etc isso agrada muito porque lembra carnaval, lembra não fazer nada. Símbolo de ira, símbolo de revolta, símbolo de tudo e nada de sentimento verdadeiro. Se um dia este sentimento aflorar com vigor, as pessoas  descobrirão que o protesto autêntico dispensa panaceia de picadeiro, porque isso sempre foi a maneira festiva e mentirosa da Esquerda se manifestar.


Certamente que, como essas marchas são organizadas por grupos partidários, ligados ao marketing político,  é preciso haver coordenação e lideranças responsáveis que, posteriormente, prestarão a contas aos caciques maiores mediante pecúnia contratada.


Experimentem, os indivíduos sem estaca que lhes amarrem as costas, tomar iniciativas como a do Tea Party e logo se sentem as baratas tontas, recrutas sem ordenança, mais perdidos do que cegos em noite de tiroteio. Mais tempo menos tempo, esse povo brasileiro terá que aprender a se manifestar com a alma e com a raiva que sentem, sem necessidade de demonstrações falsamente grandiosas e ruidosas dos carros alegóricos. A raiva não pede picadeiro. Lá é lugar de risos de alegria. 


P.S.: E a propósito, poupe o Hino Nacional, este sim, um Símbolo que conta. Aproveite para aprender o Hino do seu Estado.




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

As várias indumentárias do erro



A polêmica em torno do comercial da Nissan, os Pôneis Malditos, tutelado pela censura do CONAR criou ambiente muito favorável à censura descarada. Isso é um caso vital para que as Agências de Propaganda e Publicidade cuidarem mais do que muito melhor podem fazer.

Há muitos e muitos anos venho me ressentindo da qualidade dos comerciais exibidos nos canais de TV.  Não no tocante à qualidade gráfica. Aqui, realmente exibem grande poder tecnológico, principalmente em animações.

Mas nem só de beleza visual se compõe um comercial e o material veiculado é apenas parte de todo trabalho, que é grande em esforço desde o departamento de criação e redação. Tem-se, hoje, a impressão de que o velho brainstorming morreu. Com quantas pessoas em grupo as agências fazem o brainstorming ?


No meu tempo de P&P  a hora do brainstorming era ocasião para muita adrenalina e muita capacidade critica exercida dentro do próprio grupo. Ria-se muito das besteiras que brotavam. Era sempre grande dia de dinâmica de grupo como se diz por estes tempos. Contava-se com muita gente para podar insensatez que surgisse. Enquanto isso, o storyboard sendo criado, ia nos apontando o caminho para futuras aparas. Grosso modo,  lá adiante entrava criador de jingle  e redator competentes.

O que vejo de errado na maioria dos comerciais é a valorização da estética em detrimento da redação no uso da mensagem. O que é falado tem pouca importância, não é mais uma associação integrada à mensagem em voz falada ou cantada ( para usar linguagem que é desconhecida aos leigos no assunto ). A passagem de tempo - na hora da abertura do capô do carro ) foi a hora exata da grande falha.

A falha foi apenas uma, mas o suficiente para aberrar todo o trabalho. Faltou associação clara sobre o que a voz das crianças estava fazendo ali. Crianças não compram carros nem influenciam na aquisição dele. Então porque vozes infantis, não se soube. Querer fazer comparação entre pôneis e animal ligado às crianças não está errado, não é isso. Tão pouco é o uso do vocábulo "malditos".

Então o que houve de errado foi apenas o uso da associação da voz infantil sem uma passagem de tempo. Passagem para dizer que os malditos pôneis eram impostores demoníacos se fingindo de doces criancinhas que para o público adulto não tem a menor importância, ele consegue distinguir mesmo sem o recurso. Porém, as crianças não percebem que o mal das profundezas dos infernos se mimetizam.

A inestimável colaboração da propaganda e publicidade para ação como esta foi decisiva. Outro ponto: digam-me a garantia de que um trabalho de infiltração da esquerda não esteja completo, também, nesta área, quem garantiria? Eu, nunca garantiria, pelo contrário, sempre analiso os comerciais com dois  pés atrás. Há sutilezas subliminares mil que vão desde imagens inocentes a sinais não dectados pelo simples olhar ou audição, uma palavrinha de nada.

O fato é que apenas no fim do comercial vem a revelação de que os doces pôneis nada mais eram do que "coisa ruim" metamorfoseada. Tardia demais. O brainstorming falhou feio.



Como demonstração dos meus argumentos, veja aqui o comercial da Coca-Cola com um belíssimo trabalho de animação cuja vocalização da mensagem está perfeita do ponto de vista de criação. Adianto que desconheço a Agência.