Há uma semana o Brasil vem se postando de joelhos e se arrastando também genuflexo com a mesma fúria das enxurradas de lama e água. Igualmente furiosa tem sido, por séculos, a distância entre o Dever do Estado em relação ao povo que o legitimaria, se a função para qual ele foi criado, e bem pago, fosse exercida: cuidar do indivíduos pagadores de impostos.
Só agora a imprensa brasileira chama atenção para as proporções comparativas entre as enchentes que abalaram, em escala muito mais dramáticas, a Austrália. Crocodilos e cobras em fuga juntamente com as populações. Em território equivalente ao Estado de Minas Gerais e São Paulo, a extenção do que acontece no Estado do Rio de Janeiro é nada. Deveria ter sido nada. Lá, na Austrália, apesar da descomunal desproporção comparada com o parte do Estado do Rio de Janeiro, o total de vítimas fatais foram de 29 pessoas.
O que faz toda a diferença do mundo é que, apesar de ligado à Coroa Britânica, a Austrália antigo presídio, com apenas 190 anos de independência, tem um sistema federalista autonômico. Um sistema administrativo descentralizado e por isto mesmo, autonômico. Tem um Estado pequeno e forte e ágil porque é descentralizado. A Austrália tem Constituição ( com base do Direito da Commonwealth Law, ou Direito Consuetudinário ) e cumprida à risca.
Somente com base numa Constituição verdadeira um povo tem conhecimento e segurança para conhecer seus deveres e direitos. E da mesma forma, reclamá-los.
O que se tem presenciado e ouvido nesta última Semana da Vergonha Nacional é uma manipulação - alegremente aceita - do Estado sobre os indivíduos. Aquele repassa para estes o DEVER que lhe cabe e como ovelhas felizes, saem balindo. A grande malandragem da Esquerda, e não só a esquerda petista, foi a desconstrução da palavra Solideriedade que nada mais significa, hoje, do que "o trabalho do Estado foi transferido para o povo ". "O povo é culpado pelas mazelas e desgraças, então ele tem que pagar" - como se dissesse.
Com a presença do Estado e o dever exercitado, qualquer iniciativa individual teria outros nomes, tais como generosidade, caridade, ação humanistica e outras. Com a desconstrução da palavra solidariedade, enxertaram nela outro conceito: Dever. O indivíduo passou a ter o Dever de trabalhar em substituição ao dever do Estado e dos governantes. Mas o povo acha lindo ser "solidário" no conceito que foi imposto. O povo não se dá conta, nem na pancada.
As catástrofes passadas, a última do ano de 2010 não serviram para nada. O povo continua sem aprender, sem pensar, sem agir da maneira adequada que é pela mobilização constante para realizar o exercício permanente de ações indispensáveis para conter os desmandos de todos e quaisquer governos em todas as épocas. Seja ele Governo Federal, Estadual ou Municipal. Ações dirigidas ao enquadramento dos seus governantes.
A sensação de ser útil atrai a todos e governantes contam com a *solidariedade* de um povo inexperiente, que não sente que está sempre à disposição e trabalhando no lugar daqueles tão bem refestelados nos Cofres da União. O povo brasileiro não percebe que é patrão e não é escravo deste ou daquele governante. Alguns pergutarão: - "mas vamos deixar as pessoas morrerem sem comida e água e roupa ?" e ainda irão acrescentar: "Nós somos humanos e nos condoemos com o sofrimento alheio !"
Boas perguntas para um povo emocional que vive de momentos. Contudo, a resposta é não se esquecer depois que a terra secar e os mortos, enterrados, não mais federem. A melhor resposta é pegar pelo rabo todos que politicamente representam o Estado. Fazer disto uma missão renovada a cada segundo. Eis porque sem querer o próprio povo é conivente com tantas desgraças.
Talvez por se saberem coniventes é que as pessoas precisam limpar as consciências e participar festivamente das campanhas de socorro. Ou, por achar que é a única coisa existente ao alcance delas para que todos possam pensar que está mundando alguma coisa. Exemplo disso é a comparação que se faz com evento australiano, semelhante, mas, pior do que nos acontece neste momento. Lá, o Estado não transferiu para ações individuais seu dever e sua obrigação de Estado empregado do povo.
O saldo do vício da *solidariedade * repetida até aqui totalizam 611 mortos. O Estado agradece sensibilizado que todos os brasileiros lhe esteja sempre poupando dos deveres, sem nenhum abalo à credibilidade dele.
Dor de barriga não dá uma vez só. Como tantas outras do passado, muitas mais virão e a *solidariedade* resolverá tudo.
Recordando a útima dor de barriga de 2010:
Blogs dos indignados:
4 comentários:
Não me cansarei de repetir: a solidariedade é justa. Injusto é o estado brasileiro, esse expropriador, não assumir a sua parcela de responsabilidade, tanto pela não prevenção à tragédia, como pela rasa atuação em relação às vítimas.
Triste, lamentável, pelas perdas humanas. Revoltante, pela inércia dos governos. E por nós, "impostuintes", que somos tão poucos a cobrar. Cobrar de quem de direito: dos irresponsáveis que nada investem dos nossos impostos recolhidos.
A certeza que tem o estado de que milhões se mobilizarão para cobrir sua nefasta ausência é que causa asco e revolta aos cidadãos de bem. Esconjuro safados.
Correto! O brasileiro se acostumou a derramar lágrimas no inicio de todos os anos e depois, olhos e terrenos secos, a seguir durante os outros meses vivendo como se tivesse de aceitar, passivamente, perder amigos/parentes, familias inteiras, ter sonhos destruídos pela desídia das autoridades.
Muito do que se viu em matéria de resgate de sobreviventes e mesmo de corpos foi feito por voluntários: os próprios vizinhos, brigadistas, escoteiros e outros individuos com alguma forma de preparo, treinamento e disposição para atuar no completo caos enquanto o poder público, empacado em seu tamanho, sua burocracia e seu completo despreparo para agir em situações desse tipo - recorrentes há muitos anos, diga-se de passagem - só conseguiu se mobilizar após as primeiras 72 horas do marco zero.
O que é necessário é que o povo brasileiro não se esqueça de mais uma tragédia e fique esperando a próxima em 2012 que poderá atingir Angra, Friburgo, Teresópolis ou qualquer outro municipio que sofre com as chuvas de verão.
Na contra-mão dos acontecimentos, proposta do Dep. Aldo Rebelo, relator do Código Florestal, prevê redução de 30 para 15 metros da Área de Proteção Permanente na beira de rios entre cinco e dez metros de largura. Ou seja, quer tornar habitável regiões até então proibidas para a construção. Acreditamos que depois de tremenda catástrofe, tal idéia não terá campo para seguir em frente.
Sábio foi D. Pedro II que já no século XIX havia proibido a ocupação das encostas no Rio de Janeiro. Promoveu o reflorestamento do maciço da Tijuca no que hoje é conhecido como Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo, porque já naquela época havia o problema de abastecimento de água da cidade do Rio de Janeiro.
Talvez nos falte um outro governante com a mesma visão de futuro e a mesma coragem de tomar as decisões certas que muitas vezes são impopulares.
Não é necessário ser um rei, apenas um homem que não dependa do populismo e de propagandas políticas para fazer o que é certo.
Regina, conto que houve algum engano. Jamais disse que a solidariedade é ou não justa. O que escrevi foi sobre a desconstrução da palavra, como outras tantas, recheadas de idelogia. Ainda guardo o valor da expressão "amor ao próximo". Como método para exilar o espírito religoso a Esquerda ( ou esquerdas ) substituíram-na por *solidariedade* . De tanto ser repetida, à exaustão, as pessoas não se dão conta da artimanha. Agreço a todos pelos comentários.
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